A manhã ainda é noite
e por isso está morna e fria.
Daqui a pouco vão estar lá fora vinte e tal graus.
Podia estar sempre assim.
Não quero usar roupa.
Já há muito que ando com a pele nua
talvez dissimulada em cima de mim.
quase mutilada e amarrada
a um esforço delinquente qualquer.
metade pedaço de gente,
metade vislumbre de uma mulher.
Não fosse por dois palmos de terra agora
e sete palmos depois de morrer
e nenhum de nós estava aqui
até ao próximo amanhecer
Procuras à toa aquilo
que já um vampiro qualquer devorou
procuras as tuas asas
e nem vês que alguém as roubou.
Vais sozinho e nem vÊs
que alguém te amassa e desfigura.
É a marca daqueles que deixas para trás
com esse ar resignado e duro do «tanto faz»
Ninguém te deve nada
nem tu deves ser assim,
amargurado por natureza
a carregar uma cruz carmim.
És duro contigo mesmo
e isso só te faz voltar para trás.
Porque não aproveitaste
Nada de jeito a que te dás.
Voa no firmamento um pássaro vulgar
que sabe que pode fugir,
só porque tem para onde voltar.
E sonhas todos os dias
com um dia qualquer feliz.
é o peso dos teus ombros
e não eu quem to diz.
Já nada serve de nada,
nem há janela nem porta
quando vendes a alma ao diabo
quando já a tens mais que morta.
Calem-se todos
quero o silêncio a romper os meus ouvidos
não quero andar de cor
Só quero extravasar os meus sentidos
e acordar num dia-a-dia melhor.
Quero viver pelos outros nascimentos.
Quero que os risos se confundam com sinos.
Quero manuscritos e não pensamentos
quero retratos sem rosto e franzinos.
Se ao menos hoje houvesse inquisição
que me matasse numa fogueira qualquer
talvez soubesse que estava viva
e que morria como uma mulher.
cabeça erguida e peito de frente
e cheiro a carne decadente
a esvair-se em dor dormente
de quem carrega uma ferida aberta no ventre.
Pendura-me pelos pés,
enquanto para me assustar me descreves o monstro que és
eu juro que não vou ter medo
e vou adormecer no segredo
de te chorar de repente.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
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